Voluntariado em museus

Fiz voluntariado quando vivi nos EUA, em Filadélfia, e fiquei fascinada com o sistema. As pessoas têm talentos, têm tempo, querem ser úteis à comunidade, podem ser polivalentes. No voluntariado vão encontrar espaço para o seu crescimento pessoal e para a sua autorrealização.

Cito Philippe de Montebello, director do Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque; “Os voluntários não são amadores. São pessoas que se esforçam, têm mérito, tenacidade, exigência no desejo comum de atingirem os objectivos que lhes foram atribuídos.”

A minha experiência americana, onde trabalhei em várias organizações e onde muito aprendi, ensinou-me que nós podemos dar ideias, sugerir alterações aos procedimentos e até solicitar formação para o melhor desempenho do cargo.

Em Portugal, já trabalhar no Palácio da Ajuda, o voluntariado surgiu naturalmente em 1981. Comecei por pedir a colaboração de amigas para a conferência de inventário, mas depressa se alargou a mais pessoas e a mais áreas de actividade.

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Decidi então traduzir e adaptar os estatutos americanos e assim todos sabiam como actuar, quais as responsabilidades, a obrigatória lealdade e confidencialidade. Comecei a organizar cursos de formação, que foram uma boa aposta para todos saberem como devem corresponder às necessidades do Museu, às suas actividades e vivências.

Geralmente um voluntário era proposto por um amigo, seguia-se uma entrevista com a directora que explicava as normas da casa, a ética e o porquê da confidencialidade do trabalho. O candidato fundamentava o seu interesse em trabalhar no palácio e as suas preferências.

O voluntário não recebe salário, mas tem a mesma responsabilidade dos funcionários e o seu trabalho sendo útil e bem feito, é apreciado por todos e o seu valor enche-os de satisfação. A entrega de um diploma de mérito ao fim de 10 anos e de um “V” em prata em cerimónias presididas pelo Ministro ou pelo Secretário de Estado, eram o reconhecimento público.

Criam-se elos de amizade fortíssimos entre os voluntários. Os aniversários, a conclusão de um projecto difícil, o Natal em que todos recebiam presente, eram sempre pretexto para almoços de confraternização e celebração das nossas vitórias.

Museu

Resumindo: o voluntário tem as suas Funções, os seus Direitos, a Recompensa e um Futuro.

O dia 5 de dezembro é o Dia Internacional dos Voluntários, que se celebra em todo o mundo. De facto os voluntários não são funcionários, mas devem ser orientados como profissionais, nalguns casos são mesmo profissionais, como uma restauradora de porcelana ou um ourives. Brio profissional não lhes falta.

Fui brindada várias vezes com versos de um voluntário poeta e relembro com saudade uma quadra retirada de um longo poema, que considero engraçado e oportuno para esta ocasião:

“ Fomos todos comissários
deste projecto global
a tudo demos aval
sem pensarmos em horários”

É mesmo o que se chama Alegria no trabalho.

Isabel Silveira Godinho
Conservadora de Museu
Fundadora do Voluntariado Cultural em Portugal

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